Neurociência e Design: Como a carga cognitiva e modelos mentais influenciam na UX

Aplicação prática de conceitos de neurociências para a experiência do usuário.

Duda Souza
UX Collective 🇧🇷

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Desenho em formato de nuvens formando um mapa mental com várias nuvens conectadas entre si.
Desenho em formato de nuvens formando um mapa mental. (Freepik)

Você já se pegou realizando uma tarefa e acabou esquecendo dos passos que acabou de executar?

Isso acontece quando há uma carga cognitiva muito grande envolvida nessa atividade. Tarefas que exigem muito esforço de pensamento e reflexão, acabam nos sobrecarregando, levando ao esquecimento e confusão, pois nosso espaço de memória é limitado e essas informações começam a ser descartadas da memória de trabalho e aí… “Opa! O que eu estava fazendo mesmo?”

Espera aí… Carga cognitiva? Memória de trabalho? O que é tudo isso?

Vamos consultar as neurociências para nos ajudar a encontrar essas definições:

Carga cognitiva

A Carga Cognitiva é um construto extremamente utilizado nas ciências cognitivas e da educação que representa a carga imposta ao sistema cognitivo de pessoas, fruto do Esforço Mental implicado na realização de tarefas ou na aprendizagem de novos conhecimentos.

A Carga Cognitiva é baseada na arquitetura cognitiva, sendo esta limitada pela capacidade de retenção e processamento de informações da memória operacional — tanto visuais/espaciais, quanto auditivas/verbais — que interage com a virtualmente ilimitada capacidade da memória de longo prazo. (Kirschner & Kirschner, 2012)

Memória de trabalho

Memória de trabalho é a capacidade de manter e gerenciar informações em nossas mentes durante curtos períodos. Ela que nos permite, por exemplo, lembrar um número de telefone a tempo de discá-lo, recordar o início do texto do parágrafo quando estamos no final dele, fazer um problema de matemática com várias etapas, revezar em atividades de grupo ou responder à pergunta de alguém.

A memória de trabalho é, portanto, a capacidade que temos de mantermos ativados simultaneamente diferentes circuitos responsáveis por informações diferentes. (Carla Tieppo — Uma viagem pelo cérebro: A via rápida para entender neurociência).

Agora que as neurociências já nos ajudaram a entender um pouco mais sobre essas definições, vamos entender como elas podem ajudar no nosso design:

Segundo o livro Design com Neurociências, escrito pelo designer Alex Soares, quando temos uma nova experiência, por mais positiva que seja, podemos nos sentir incomodados. Mas, por que isso acontece?

Imagem de uma mulher de cabelos escuros e pele clara, expressando dúvida, com um dos dedos na boca, como se estivesse mordendo a unha.
Imagem de uma mulher expressando dúvida. (Freepik)

Nosso cérebro é um órgão super inteligente, porém, preguiçoso também.

Portanto, ao executar uma tarefa ou passar por uma experiência ele procura por padrões, sempre pensando em economia de energia e de esforço. Consequentemente, ele procura imitar padrões fáceis que se repetem várias vezes e que não são complexos de serem interpretados.

E é por isso que nosso sistema de memória é ativado várias vezes enquanto estamos realizando tarefas, o nosso córtex pré-frontal se comunica a todo momento com nossas memórias, fazendo sempre este link do que já experienciamos antes com o que estamos experienciando agora e com o que vamos experienciar no futuro.

Nosso cérebro faz essas conexões através do que as neurociências chamam de Modelos Mentais.

O que são Modelos Mentais?

Os modelos mentais são os dispositivos de pensamento responsáveis pelo modo como aprendemos e entendemos o mundo, os outros que estão ao nosso redor e a nós mesmos. É por conta desses dispositivos que conseguimos formular histórias sobre situações que aconteceram com a gente e falar sobre as experiências que tivemos através da nossa perspectiva.

(Alex Soares — Design com Neurociências)

“Tá Duda, é muito legal toda essa ciência… Mas e o que tudo isso tem a ver com Design?”

Ao reproduzirmos modelos mentais e fluxos que as pessoas já estão acostumadas a utilizar e que já são estabelecidos em diferentes contextos, estamos ajudando a cognição dos nossos usuários a compreender melhor as informações que queremos passar. Ao aproveitar esse aprendizado já enraizado e refleti-los em outras interações e experiências, certamente proporcionaremos aos nossos usuários experiências mais confortáveis e agradáveis.

Através das neurociências, sabemos com mais propriedade como nosso cérebro processa novas informações, então por que não utilizar esse conhecimento e aplicar em nossos projetos?

A mão de uma pessoa ligando pontos em um quadro físico através de alfinetes, neste quadro há algumas imagens de wireframes coladas.
A mão de uma pessoa ligando pontos em um quadro. (Unsplash)

Vamos a alguns exemplos:

  • Posicionar um menu na parte superior na web;
  • Permitir que o usuário utilize atalhos;
  • Utilizar textos alinhados à esquerda no ocidente;
  • Posicionar botões de decisões na direita da página;
  • Reaproveitar um fluxo de compra que já funciona muito bem.

A lista é bastante grande. Esses são apenas alguns exemplos de modelos mentais já condicionados que podemos reproduzir para ajudar a vida dos nossos usuários… Não precisamos inventar a roda, podemos usar e abusar desses conhecimentos das neurociências para deixar o caminho do usuário mais feliz!

Ao reaproveitar padrões já estabelecidos em modelos mentais, correspondentemente diminuímos a carga cognitiva dos usuários nessas interações (menos distrações, menor carga cognitiva) quanto menor a quantidade de ações e informações ele precisar processar para cumprir seus objetivos, melhor para o sucesso dele, para o sucesso do que estamos projetando e pode impactar até mesmo no negócio, pois, os usuários podem se lembrar dessa experiência como algo “fácil”, “rápido”, “prático” de ser utilizado.

Mas não podemos criar nada novo? E a criatividade? Como fica todo esse processo?

Fica aí o questionamento no ar para o próximo post 😉

Referências

  • Design com Neurociências: Desvendando o comportamento humano para aprimorar seus projetos, Alex Soares
  • Uma viagem pelo cérebro: A via rápida para entender neurociência, Carla Tieppo

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