Neurociência e Design: Como a carga cognitiva e modelos mentais influenciam na UX
Aplicação prática de conceitos de neurociências para a experiência do usuário.
Você já se pegou realizando uma tarefa e acabou esquecendo dos passos que acabou de executar?
Isso acontece quando há uma carga cognitiva muito grande envolvida nessa atividade. Tarefas que exigem muito esforço de pensamento e reflexão, acabam nos sobrecarregando, levando ao esquecimento e confusão, pois nosso espaço de memória é limitado e essas informações começam a ser descartadas da memória de trabalho e aí… “Opa! O que eu estava fazendo mesmo?”
Espera aí… Carga cognitiva? Memória de trabalho? O que é tudo isso?
Vamos consultar as neurociências para nos ajudar a encontrar essas definições:
Carga cognitiva
A Carga Cognitiva é um construto extremamente utilizado nas ciências cognitivas e da educação que representa a carga imposta ao sistema cognitivo de pessoas, fruto do Esforço Mental implicado na realização de tarefas ou na aprendizagem de novos conhecimentos.
A Carga Cognitiva é baseada na arquitetura cognitiva, sendo esta limitada pela capacidade de retenção e processamento de informações da memória operacional — tanto visuais/espaciais, quanto auditivas/verbais — que interage com a virtualmente ilimitada capacidade da memória de longo prazo. (Kirschner & Kirschner, 2012)
Memória de trabalho
Memória de trabalho é a capacidade de manter e gerenciar informações em nossas mentes durante curtos períodos. Ela que nos permite, por exemplo, lembrar um número de telefone a tempo de discá-lo, recordar o início do texto do parágrafo quando estamos no final dele, fazer um problema de matemática com várias etapas, revezar em atividades de grupo ou responder à pergunta de alguém.
A memória de trabalho é, portanto, a capacidade que temos de mantermos ativados simultaneamente diferentes circuitos responsáveis por informações diferentes. (Carla Tieppo — Uma viagem pelo cérebro: A via rápida para entender neurociência).
Agora que as neurociências já nos ajudaram a entender um pouco mais sobre essas definições, vamos entender como elas podem ajudar no nosso design:
Segundo o livro Design com Neurociências, escrito pelo designer Alex Soares, quando temos uma nova experiência, por mais positiva que seja, podemos nos sentir incomodados. Mas, por que isso acontece?
Nosso cérebro é um órgão super inteligente, porém, preguiçoso também.
Portanto, ao executar uma tarefa ou passar por uma experiência ele procura por padrões, sempre pensando em economia de energia e de esforço. Consequentemente, ele procura imitar padrões fáceis que se repetem várias vezes e que não são complexos de serem interpretados.
E é por isso que nosso sistema de memória é ativado várias vezes enquanto estamos realizando tarefas, o nosso córtex pré-frontal se comunica a todo momento com nossas memórias, fazendo sempre este link do que já experienciamos antes com o que estamos experienciando agora e com o que vamos experienciar no futuro.
Nosso cérebro faz essas conexões através do que as neurociências chamam de Modelos Mentais.
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O que são Modelos Mentais?
Os modelos mentais são os dispositivos de pensamento responsáveis pelo modo como aprendemos e entendemos o mundo, os outros que estão ao nosso redor e a nós mesmos. É por conta desses dispositivos que conseguimos formular histórias sobre situações que aconteceram com a gente e falar sobre as experiências que tivemos através da nossa perspectiva.
(Alex Soares — Design com Neurociências)
“Tá Duda, é muito legal toda essa ciência… Mas e o que tudo isso tem a ver com Design?”
Ao reproduzirmos modelos mentais e fluxos que as pessoas já estão acostumadas a utilizar e que já são estabelecidos em diferentes contextos, estamos ajudando a cognição dos nossos usuários a compreender melhor as informações que queremos passar. Ao aproveitar esse aprendizado já enraizado e refleti-los em outras interações e experiências, certamente proporcionaremos aos nossos usuários experiências mais confortáveis e agradáveis.
Através das neurociências, sabemos com mais propriedade como nosso cérebro processa novas informações, então por que não utilizar esse conhecimento e aplicar em nossos projetos?
Vamos a alguns exemplos:
- Posicionar um menu na parte superior na web;
- Permitir que o usuário utilize atalhos;
- Utilizar textos alinhados à esquerda no ocidente;
- Posicionar botões de decisões na direita da página;
- Reaproveitar um fluxo de compra que já funciona muito bem.
A lista é bastante grande. Esses são apenas alguns exemplos de modelos mentais já condicionados que podemos reproduzir para ajudar a vida dos nossos usuários… Não precisamos inventar a roda, podemos usar e abusar desses conhecimentos das neurociências para deixar o caminho do usuário mais feliz!
Ao reaproveitar padrões já estabelecidos em modelos mentais, correspondentemente diminuímos a carga cognitiva dos usuários nessas interações (menos distrações, menor carga cognitiva) quanto menor a quantidade de ações e informações ele precisar processar para cumprir seus objetivos, melhor para o sucesso dele, para o sucesso do que estamos projetando e pode impactar até mesmo no negócio, pois, os usuários podem se lembrar dessa experiência como algo “fácil”, “rápido”, “prático” de ser utilizado.
Mas não podemos criar nada novo? E a criatividade? Como fica todo esse processo?
Fica aí o questionamento no ar para o próximo post 😉
Referências
- Design com Neurociências: Desvendando o comportamento humano para aprimorar seus projetos, Alex Soares
- Uma viagem pelo cérebro: A via rápida para entender neurociência, Carla Tieppo